No mês de janeiro deste ano de 2016, eu teria que trabalhar por 5 dias entre dois períodos de férias. Tentei dispensa de todas as formas, mas, para minha tristeza, não consegui.
Cinco dias é pouca coisa para quem já trabalha há quase 30 anos. O problema seria ficar separado de TiaBeth neste tempo, pois para cumprir esta tarefa, eu deveria retornar da Bahia para o Rio de Janeiro, onde moro, deixando-a sozinha ainda de férias em Arraial d’Ajuda. Ela ficaria me aguardando por contenção de despesas. Depois eu voltaria à Bahia para curtir a segunda etapa das férias que iria perdurar até o carnaval.
Milhares de maridos ficam longe de suas esposas todos os dias em muitos lugares do mundo. Porém quando a mulher tem diabetes do tipo 1 e eventuais episódios de hipoglicemia noturna, bem, … aí as coisas se complicam.
Na primeira parte de nossas férias, que se estendeu do fim de dezembro até meados de janeiro, TiaBeth apresentou alguns episódios de baixa de açúcar no sangue enquanto dormia. Mudanças de rotina, na dieta e até nos medicamentos fez com que durante algumas noites, tivesse baixos níveis de glicose.
Quando isso ocorre, ela costuma ficar incapaz de tomar iniciativa para reverter o quadro. Por sorte, alguns dos sintomas são muito claros para mim que durmo a seu lado: suor, agitação ou mesmo o fato de estar acordada pela madrugada sem motivos aparentes. Seu normal é dormir feito uma pedra, o que me causa muita inveja. E se não estiver dormindo como uma pedra, daquelas bem grande, é porque há algo de errado. Nessas horas pergunto-lhe se está tudo bem, e quando ela responder que sim ou se não obtenho resposta, é porque não está.
E sendo o caso, nem perco tempo com exames, dirijo-me até a cozinha e busco um copo de Coca-Cola. Eu a acompanho tomar até o final, quando então volto a dormir tranquilamente, e ela também.
Desta vez eu iria passar 4 noites consecutivas sem TiaBeth. Nunca ficamos tanto tempo assim, um longe do outro, em mais de 15 anos de casados. Mas seria inevitável. Sem outras alternativas, peguei o avião numa madrugada de domingo em Porto Seguro, fiz escala em Guarulhos (SP) e ainda pela manhã cheguei ao Rio de Janeiro, no aeroporto Santos Dumont, de onde fui direto, a pé, para meu trabalho.
Enquanto estou na Bahia, é difícil falar comigo. Onde fico, não há telefone fixo e o celular não pega dentro de casa, mas me resta a internet que, às vezes, “dá pau”. Para minha satisfação, dessa vez a internet funcionou direitinho por lá, e ainda na segunda feira pela manhã, recebi um email de TiaBeth dizendo estar tudo bem. Bastante ocupado neste dia, apenas respondi: “cuide-se”.
A semana passou rápido e sem susto algum. Recebi notícias eventuais e nos falamos pelo telefone uma única vez.
Não fiquei estressado neste tempo de separação, pois já havia percebido que estando longe de mim, ela se preocupa muito mais com a sua própria diabetes, talvez por instinto de sobrevivência.
Finalmente na sexta feira, ansioso por retornar, peguei o avião para a Bahia que desta vez não fez escalas. O voo durou pouco mais de 1 hora e a viagem foi ótima (Azul). Após a chegada, logo reencontrei TiaBeth e, em seguida, voltamos à nossa rotina de saídas noturnas, mas esta primeira noite foi de comemoração.
No total, foram 5 dias e quatro noites distantes um do outro, uma coisa aparentemente banal, mas que pode ser assustador quando um dos pares tem diabetes do tipo 1. Confesso ter ficado apreensivo antes da viagem, mas no fim posso garantir-lhes que a felicidade veio em dobro. E vida que segue. 🙂
TiaBeth dançando em uma de suas de noites em Arraial